August 31, 2014

"I guarantee there's a "why"."
DISPLACED PERSONS
Derek McCulloch & Anthony Peruzzo
Image Comics, 2014
168 pages, cmyk, digital

The past exists through memory, there are a few things we know about it: it can be our connection to others; remembering it is crucial to avoid repeating mistakes; knowing about it can give us a better understanding of where we're heading.
"Displaced Persons" is as much about the past as it is about family.
Strange disappearances afflict the Martinez-Abramowitz-Price-Hayes-Schroeder family (read the comic, you'll get what I'm saying and why I chose this particular order) throughout its history, people seem to disappear into thin air without explanation, leaving behind grieving and broken others. But life goes on, as it should.
There's a lot to understand about "Displaced Persons", it's an entertaining comic and can be read as such, but it is also an incredibly intelligent and layered read. Derek McCulloch's achieves a sort of reverberation by the way he sets up certain "notes" that are replayed along the story, giving them a stronger and deeper meaning. Also, great dialogue and characters (one of these days I have to write something about Davy Abramowitz and his greater meaning in the book) and a solid internal logic that forces the reader to think if he/she chooses to.
Anthony Peruzzo's art is beautiful, earthy and subtly consistent, specially in terms of facial representation. There are a couple of pages that have an unfortunate layout and the reader's eyes drop to the next strip before finishing the first one, but once you get used to that choice it rarely occurs again.
But what makes you take notice about Peruzzo is his colouring, at first seemingly subdued, then you realize that it serves narrative purposes and everything makes sense.
"Displaced Persons" is a moving and, again, intelligent read and everyone should read it.

30 de Agosto de 2014

"He was there."
REVIVAL, VOL. 1 : YOU'RE AMONG FRIENDS
Tim Seeley, Mike Norton &  Mark Englert
Image Comics, 2012
128 págs., tetracromia, digital

A pequena cidade de Wausau, no interior do Wisconsin (E.U.A., claro), viu-se a braços com um fenómeno de proporções bíblicas: os mortos estão a voltar à vida. Parece ser um evento localizado e as autoridades estão a fazer o possível para controlar a situação e impedir o pânico geral.
Ao contrário do que seria de esperar, a figura do zombie tarda a surgir, as pessoas ressuscitadas parecem manter-se como eram em vida.
Como reagir quando um nosso familiar regressa? Devemos encará-lo como uma segunda oportunidade ou devemos prestar atenção àquele receio provocado pelo que sabemos não ser natural ?
O ponto mais forte desta bd é precisamente este explorar das diferentes situações que advêm da ressurreição. Não é um fenómeno milagroso que apaga a vida antes da morte. A imortalidade pode ser um preço pesado a pagar quando a morte foi cura para sofrimento atroz.
Eventualmente as coisas acabam por descambar e alguns destes recentes "lázaros" começam a acusar esta nova vida.
"Revival" tem um elenco, ambiente e ritmo que podiam muito bem pertencer a uma série de televisão e se calhar foi por esse sentimento provocado em mim - o de que se tratava de uma "bd para tv" - que me dificultou a leitura deste livro. Desenganem-se aqueles que acham que isso significa que é uma má banda desenhada, não é, as personagens são complexas, tem um enredo interessante e misterioso e o aspecto visual é bem desenvolvido. É questão de gosto pessoal e de ter tido a ideia estúpida de ler as bds do Humble Bundle todas seguidas e ainda me faltar uma (Chew, relativamente a Saga já tinha escrito algo).
Se há no leitor aquele vício de quem devora episódios de séries de tv com tendências sobrenaturais e/ou fantásticas, esta é uma bd a ler.

3 de Agosto de 2014

"...go to Hell."
FATALE, VOL. 1: DEATH CHASES ME
Ed Brubaker, Sean Phillips & Dave Stewart
Image Comics, 2012
144 págs., tetracromia, digital

A parceria entre Brubaker e Phillips é de longa data, desde 2002 que colaboram em diversos projectos (Sleeper, Criminal, Incognito), todos eles com algum pendor para a estética policial.
"Fatale" é o mais recente projecto dos dois autores e não escapa a essas tendências. O título faz referência ao arquétipo femme fatale, personagem típica dos filmes policiais noir americanos dos anos 40 e 50, uma mulher capaz de manipular os membros do género oposto (muitas vezes o detective privado protagonista) recorrendo aos seus dotes feminino de forma a alcançar os seus objectivos normalmente menos "puros". Este tipo de personagem acabou por se tornar um cliché e não há pastiche recente que não a inclua ou uma sua variação.
Este "Fatale" pega nesse conceito e acrescenta-lhe uma camada de sobrenatural.
Nicolas Lash dá consigo gestor dos bens de Dominic Raines, amigo do seu pai e escritor de policiais medíocres. No funeral de Raines, Nick conhece Jo, uma mulher cuja presença a partir desse momento o domina completamente. Quando organizava os documentos de Raines, Nick descobre um manuscrito - um primeiro policial inédito - que relata acontecimentos muito estranhos envolvendo uma mulher chamada Josephine.
"Fatale" é uma leitura com um ritmo e ambientes óptimos - um policial com toques lovecraftianos que é elevado pela arte acetinada de Sean Phillips e Dave Stewart.
Aconselhado aos fãs tanto do género policial como aos do "culto de Lovecraft" e também a quem simplesmente gosta de coisas bonitas. 

2 de Agosto de 2014

"The hour of our release draws near."
MORNING GLORIES, VOL. 1: FOR A BETTER FUTURE
Nick Spencer & Joe Eisma
Image Comics, 2011
188 págs., tetracromia, digital

Morning Glories é uma escola preparatória de renome que usa métodos educativos pouco tradicionais. Uma nova leva de alunos chega à escola e rapidamente descobre que há uma linha ténue entre a fama e a infâmia. 
Um livro que declara as suas influências a alta voz (referências a Grant Morrison, Peanuts, Lost e outros são muitas e denunciam intenção), Morning Glories tenta incutir mistério e estranheza ao seu enredo acabando por fazê-lo de uma forma pouco eficaz.
O grande problema deste primeiro volume tem a ver com a quantidade de ideias e enigmas que não são devidamente explorados, quando o leitor se depara com uma nova questão, não tem tempo para pensar sobre ela porque é logo assaltado por uma nova dúvida, um novo mistério. Este tipo de abordagem cria sérios problemas de ritmo e acaba por não permitir ao leitor valorizar os momentos-chave que Spencer quer salientar.
As personagens são puros estereótipos, variações do que se pensa que um adolescente americano pode ser e  embora haja alguns vislumbres de personalidades menos genéricas, esses momentos são poucos e breves.
Os diálogos são um pouco atabalhoados, carregados de texto expositivo e humor pouco subtil.
A arte é competente sem ser deslumbrante, Eisma consegue ser consistente na sua representação de cada uma das personagens e é essa consistência que permite a Spencer colocar mais perguntas em jogo (por exemplo, quando Jun é apanhado em flagrante).
Nick Spencer acusa um pouco a pressão nesta sua primeira série mensal. O seu plano é fácil de compreender, quer desenvolver uma banda desenhada ao nível de Lost mas, infelizmente, estes primeiros números não conseguem captar a mítica dessa série televisiva.
Fica a curiosidade de ler o segundo volume para perceber se Spencer consegue colocar a história nos eixos porque há muito potencial em jogo.