14 de Janeiro de 2018

"I am nothing."
ZERO, VOL. 1: AN EMERGENGY
Ales Kot et al
Image Comics, 2014
172 págs., tetracromia, capa mole


As pessoas têm o seu Alan Moore ou o seu Grant Morrison como escritores que os surpreendem, confundem e deixam um travo de genialidade difícil de explicar à primeira leitura. Eu tenho o Aleš Kot.

No primeiro volume de "Zero" somos apresentados ao espião que dá nome ao livro, uma espécie de James Bond moderno na linha do que os filmes recentes da franquia nos têm habituado.
O recontar da vida de Edward Zero é feito de forma episódica, com saltos temporais, explorado diferentes missões com as suas diferentes repercussões no nosso protagonista - mentais, emocionais e físicas.
Pelo meio do enredo base, as habituais alucinações inventivas que Kot sabe fazer. E, claro, aquele cliffhanger, o fim que muda o género da narrativa e que nos lança para o desconhecido excitante.

Cada episódio/capítulo tem a peculiaridade de ser ilustrado por um diferente artista (daí o et al que vos informa que eram demasiados nomes para colocar nos créditos e que aqui posso divulgar, sequencialmente, Michael Walsh, Tradd Moore, Mateus Santolouco, Morgan Jeske e Will Tempest) com um estilo que melhor espelha o ambiente e estado de espírito desejado (acho mesmo que foram escolhidos a dedo, já que fazem tanto sentido, cada um no seu capítulo).
Realço o trabalho de Tradd Moore (nos anos 90 seria uma super estrela) e Mateus Santolouco pelo dinamismo e solidez de linha. Não achei nada de particularmente espectacular em Morgan Jeske. Os restantes são, bem, competentes. Em relação às cores, há duas palavras que são sinónimo de qualidade: Jordie Bellaire.


"Zero" não será para todos, especialmente para os perfeccionistas da leitura que querem um conteúdo consistente visualmente e claríssimo numa primeira abordagem. O livro quase que funciona mais como uma antologia de histórias que parecem tenuamente interligadas, mas as batidas que se repetem em cada um dos episódios que culminam naquele fim são inegavelmente um plano, um plano cujo objectivo final só Aleš Kot sabe.

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